Desprendimento

Tenho pensado muito sobre o desprendimento… O que é? Será que existe?

Estes dias estudando alguns filósofos para meus casos clínicos, me deparei com o Mestre Eckhart Von Hochheim (1260-1327), frade dominicano, místico, filósofo, para ele o desprendimento é maior virtude que a humildade, que a misericórdia e inclusive que o amor.

Seus ensinamentos foram considerados por Arthur Schopenhauer como, em essência, “os mesmos de Buda”, segue um trecho que separei sobre sua reflexão a respeito do desprendimento:

“(…) O desprendimento perfeito não visa a sujeitar-se a nenhuma criatura nem a elevar-se sobre a criatura nenhuma — não quer estar abaixo nem acima de ninguém, antes quer estar em si mesmo, não fazendo bem nem mal a ninguém, não querendo ser igual nem desigual em relação a nenhuma craitura, nem isto nem aquilo: quer apenas ser. O desprendimento não quer ser isto nem aquilo porque quem quer ser isto ou aquilo quer ser algo; ele, porém, não quer ser nada. Por isso dispensa todas as coisas (…)”.

O que Eckhart parece dizer é que apenas com o esvaziamento de si mesmo, o homem alcança algo maior, é como se devessemos habitar um constante vazio próprio, não um deixar de viver, mas viver plenamente a si mesmo.

Devaneando, dentro do que percorro no consultório, este desprendimento citado não é inatingível, mas precisa de uma liberdade plena, que muitas vezes pode ser angustiante, desprende-se do criado, esperado; liberdade no sentido íntimo de simplesmente viver a vida com as possibilidades que me são apresentadas.

Neste sentido será que vivemos de alguma forma o desprendimento?

Ou….

Qual outro sentido podemos dar ao desprendimento?

3 thoughts on “Desprendimento

  1. Bonita a descricao dele sobre o desprendimento. Soa budista, mesmo. Interessante, mesmo, a ambiguidade (seria um problema de traducao?) de nao querer ser bom ou ruim. No limite, a pessoa talvez nao queira a designaçao, nao queira pensar naquilo que é, para existir sendo. (me lembrei do Alberto Caeiro.) Mas, ao mesmo tempo, nao querer ser nada é nao ser nada. Nao?

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    • Oi Juks, os textos dele são muito interessantes e bonitos, de uma sinceridade e clareza. A princípio pensei num erro de tradução também, mas refletindo um pouco, sinto que realmente vivemos esta ambiguidade constantemente e o brinde que faço a ele, é a passagem desta ambiguidade para algo que se possa permitir mais, um buscar mais real e libertador de vivenciar um vazio sem medo, culpa, ansiedade, mas de apenas habitá-lo, senti-lo.

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