Significado Existencial

Diante de tantas buscas íntimas em responder sobre o significado da vida, encontrei nesta semana Tarthang Tulku, um lama tibetano. Foi um encontro casual, passando os olhos por muitos livros, em uma deliciosa tarde em uma livraria. Conhecê-lo, foi algo esclarecedor e revigorante para minhas reflexões, consegui de alguma forma iniciar em mim um caminho para a busca de um significado existencial, que com certeza fará parte de muitas conversas e reflexões no consultório!

Compartilho com vocês um trecho do livro “Gestos de Equilíbrio”, onde ele fala da importância de integrar mente e coração, ações e intuições, porque só assim “encontramos um significado genuíno em nossa vida”.

 “Se nossos corações estão abertos, toda a existência parece naturalmente bela e harmoniosa. Isto não é apenas mais uma fantasia – é possível ver ou sentir dessa maneira, e essa é a essência dos ensinamentos espirituais. O coração nos revela todos os conhecimentos. Por que o coração e não a mente? Porque o nosso ego controla a nossa cabeça, e os nossos corações são muito mais livres.

Quando os nossos corações estão abertos, nenhum problema é demasiado grande. Ainda quer percamos nossas posses e nossos amigos e fiquemos sós, sem ninguém para nos amparar ou para nos orientar, podemos encontrar sustentação em nossos sentimentos mais profundos, nosso silêncio interior. Utilizando nossos recursos interiores, podemos enfrentar com mais facilidade situações emocionais e intelectuais porque já não estamos envolvidos no drama que se desenrola à nossa volta.

Precisamos, portanto, encorajar nossos sentimentos calorosos e positivos. Esse calor não é uma emoção superficial ou sentimental – não é o tipo de emoção que leva ao desequilíbrio e cria frequentemente o “pânico” em lugar da calma. É uma autêntica abertura que sentimos como um calor profundo no centro do coração, que é o nosso santuário interior, o nosso próprio lar.

É no centro do coração que nossa natureza interior cresce até alcançar a plenitude. Depois que o centro do coração se abre, todos os bloqueios se dissolvem e um espírito ou intuição se difunde por todo o corpo, de modo que todo o nosso ser se põe a viver. A esse “espírito” dá-se, por vezes, o nome de essência da energia humana ou essência da verdade. Seja qual for o nome que se lhe dê, se não nos deixarmos impregnar por ele, o nosso corpo pode estar ativo, mas nosso coração permanecerá fechado. Somos estranhos a nós mesmos.

Quando nos tornamos capazes de integrar nossa mente com nosso coração e nossas ações com nossas intuições, encontramos um significado genuíno em nossa vida. Nossas dificuldades emocionais e nossos problemas diminuem automaticamente e descobrimos inspiração, insight, motivação e força”.

É tempo de travessia

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.     Fernando Pessoa

Faz algum tempo que ando pensando nesta citação de Fernando Pessoa, ela traz muito do caminhar de meus pacientes, e porque não ousar mais e dizer que o meu próprio caminhar.

Estamos em constantes transformações, neste minuto algo em nós muda e continuará mudando, então porque nos apegamos tanto as coisas, sejam elas pessoas, roupas, acessórios, imóveis, carros, idéias, pensamentos, crenças. Porque vivemos muitas vezes de maneira tão superficial, os temas que nos distanciam de nossa essência, de quem realmente somos.

Ficamos constantemente vivendo pelo outro, seja por uma idéia, um desejo, uma necessidade de pertencer, e esquecemos do que queremos, sentimos, pensamos. O encontro com nossa essência nem sempre é algo fácil, mas é primordial para nos conhecermos melhor, trocarmos o que não queremos mais, o que não nos cabe mais, o que não faz (ou nunca fez) sentido algum para nossas escolhas de vida, para sermos quem quisermos e pudermos ser.

Devemos olhar para nossos sentimentos, nossas escolhas e dar novos significados a elas, trocando quando não faz mais sentido, buscando assim dar novo sentido a nossa vida, e atravessar o caminho assumindo as escolhas que fazemos.

No consultório me deparo muitas vezes com pessoas que perderam o sentido de suas próprias vidas, que deixaram que os outros (pais, conjugês, chefes, amigos) escolhessem seus caminhos, não por preguiça ou por falta de conhecimento, mas sim, por tentarem se ajustar ao “mundo”, por tentarem pertencer a algo, quando na verdade, devemos escolher e assumir o que nos faz ser realmente o que desejamos ser, o que nos completa, para não corrermos o risco de vivermos a margem de nós mesmos, o que pode gerar muitos males físicos e emocionais (depressão, pânico).

Há no processo terapêutico um forte encontro do paciente com ele mesmo, onde consegue sentir, perceber e nomear o que não faz mais sentido em sua vida, por isso muitas vezes o vazio, a angustia, o choro, a melancolia, são tão presentes em nossos encontros. Mas há depois, a alegria deste reencontro consigo mesmo, o resignificar de suas escolhas, a liberdade de poder escolher e ser responsável por tudo o que quer e sente para si, e assumir sozinho os novos rumos de sua própria travessia, “com roupas novas”.

Esta é a mágica da nossa travessia interior, não deixem de fazê-la, é difícil, mas nos encanta e liberta!

Ao pensar em tempo, nos referimos muitas vezes ao tempo mecânico, o tic-tac do relógio que anuncia o passar do tempo, muitas vezes vivenciado de forma angustiante, entediada, apressada, dentre outras.

Pensando assim, temos o tempo como uma extensão de nós mesmos, não algo do mundo. Ele é consciente, mede e vivencia nossas experiências, ele é o Tempo Vivido.