A Busca da Vida Perfeita

Cfelizada vez mais somos convidados a vivenciar uma vida perfeita, com cores, carros, casas, viagens, amigos, festas, parceiros,… E acabamos por esquecer de viver a plenitude do que temos em nossas vidas, almejamos sempre mais, porém não o mais que acrescenta para o que verdadeiramente queremos, mas o mais que é idealizado como a perfeição. E ao idealizarmos, esquecemos de olhar para a nossa realidade imperfeita, o que nos impede de vivermos profundamente quem somos e nossas relações.
Colocamos metas inalcançáveis em nós, nos nossos parceiros, profissões, filhos,… Deixamos de nos entregar aos momentos, vivendo cada um como único; escolhemos viver os momentos com a frustração do que nos falta, de que a grama do vizinho é mais verde que a nossa.
Precisamos viver o luto desta busca de perfeição idealizada, para podermos viver o amor verdadeiro, aquele que acolhe os defeitos, que é capaz de vislumbrar o perfeito no imperfeito.
É importante quebrarmos tabus sociais e culturais, que nos são incutidos desde a infância, onde somos compelidos a acreditar que só seremos amados se formos perfeitos, relacionar-se não tem nada a ver com perfeição, mas sim, com a inteireza de sermos nós mesmos e sermos humanos falíveis que buscam a evolução nos acertos e erros. Se buscarmos passar reto pelos erros, pela nossa falibilidade, estaremos sendo omissos conosco mesmo, com nossos filhos, com as pessoas a nossa falta! Que mal tem errar? O que podemos aprender com nossos erros?
Certa vez, li em algum lugar a seguinte reflexão: …”Podemos preferir o amor, a paz, a consciência limpa, mesmo que essa decisão aparentemente não favoreça ter o que tanto desejamos. Antes a imperfeição feliz à perfeição que se torna fonte de angústia”… (Autor Desconhecido).
Os momentos mágicos são simples e podem ser sentidos e vividos na maravilhosa imperfeição. Isso significa que podemos ser quem somos, buscar evoluirmos, estarmos presentes e sermos felizes, com leveza, verdade e autenticidade.

É tempo de travessia

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.     Fernando Pessoa

Faz algum tempo que ando pensando nesta citação de Fernando Pessoa, ela traz muito do caminhar de meus pacientes, e porque não ousar mais e dizer que o meu próprio caminhar.

Estamos em constantes transformações, neste minuto algo em nós muda e continuará mudando, então porque nos apegamos tanto as coisas, sejam elas pessoas, roupas, acessórios, imóveis, carros, idéias, pensamentos, crenças. Porque vivemos muitas vezes de maneira tão superficial, os temas que nos distanciam de nossa essência, de quem realmente somos.

Ficamos constantemente vivendo pelo outro, seja por uma idéia, um desejo, uma necessidade de pertencer, e esquecemos do que queremos, sentimos, pensamos. O encontro com nossa essência nem sempre é algo fácil, mas é primordial para nos conhecermos melhor, trocarmos o que não queremos mais, o que não nos cabe mais, o que não faz (ou nunca fez) sentido algum para nossas escolhas de vida, para sermos quem quisermos e pudermos ser.

Devemos olhar para nossos sentimentos, nossas escolhas e dar novos significados a elas, trocando quando não faz mais sentido, buscando assim dar novo sentido a nossa vida, e atravessar o caminho assumindo as escolhas que fazemos.

No consultório me deparo muitas vezes com pessoas que perderam o sentido de suas próprias vidas, que deixaram que os outros (pais, conjugês, chefes, amigos) escolhessem seus caminhos, não por preguiça ou por falta de conhecimento, mas sim, por tentarem se ajustar ao “mundo”, por tentarem pertencer a algo, quando na verdade, devemos escolher e assumir o que nos faz ser realmente o que desejamos ser, o que nos completa, para não corrermos o risco de vivermos a margem de nós mesmos, o que pode gerar muitos males físicos e emocionais (depressão, pânico).

Há no processo terapêutico um forte encontro do paciente com ele mesmo, onde consegue sentir, perceber e nomear o que não faz mais sentido em sua vida, por isso muitas vezes o vazio, a angustia, o choro, a melancolia, são tão presentes em nossos encontros. Mas há depois, a alegria deste reencontro consigo mesmo, o resignificar de suas escolhas, a liberdade de poder escolher e ser responsável por tudo o que quer e sente para si, e assumir sozinho os novos rumos de sua própria travessia, “com roupas novas”.

Esta é a mágica da nossa travessia interior, não deixem de fazê-la, é difícil, mas nos encanta e liberta!