A Busca da Vida Perfeita

Cfelizada vez mais somos convidados a vivenciar uma vida perfeita, com cores, carros, casas, viagens, amigos, festas, parceiros,… E acabamos por esquecer de viver a plenitude do que temos em nossas vidas, almejamos sempre mais, porém não o mais que acrescenta para o que verdadeiramente queremos, mas o mais que é idealizado como a perfeição. E ao idealizarmos, esquecemos de olhar para a nossa realidade imperfeita, o que nos impede de vivermos profundamente quem somos e nossas relações.
Colocamos metas inalcançáveis em nós, nos nossos parceiros, profissões, filhos,… Deixamos de nos entregar aos momentos, vivendo cada um como único; escolhemos viver os momentos com a frustração do que nos falta, de que a grama do vizinho é mais verde que a nossa.
Precisamos viver o luto desta busca de perfeição idealizada, para podermos viver o amor verdadeiro, aquele que acolhe os defeitos, que é capaz de vislumbrar o perfeito no imperfeito.
É importante quebrarmos tabus sociais e culturais, que nos são incutidos desde a infância, onde somos compelidos a acreditar que só seremos amados se formos perfeitos, relacionar-se não tem nada a ver com perfeição, mas sim, com a inteireza de sermos nós mesmos e sermos humanos falíveis que buscam a evolução nos acertos e erros. Se buscarmos passar reto pelos erros, pela nossa falibilidade, estaremos sendo omissos conosco mesmo, com nossos filhos, com as pessoas a nossa falta! Que mal tem errar? O que podemos aprender com nossos erros?
Certa vez, li em algum lugar a seguinte reflexão: …”Podemos preferir o amor, a paz, a consciência limpa, mesmo que essa decisão aparentemente não favoreça ter o que tanto desejamos. Antes a imperfeição feliz à perfeição que se torna fonte de angústia”… (Autor Desconhecido).
Os momentos mágicos são simples e podem ser sentidos e vividos na maravilhosa imperfeição. Isso significa que podemos ser quem somos, buscar evoluirmos, estarmos presentes e sermos felizes, com leveza, verdade e autenticidade.

Egoísmo x Amor Próprio

amor proprioUltimamente tenho sido convidada a refletir sobre relações afetivas, quase que diariamente alguém conversa comigo sobre a dificuldade no olhar íntimo do limite entre o Eu e o Tu! Como colocar este limite? Em qual parte da relação, seja ela qual for, deixamos de lado nossa individualidade? Qual a diferença entre amor próprio e egoísmo? Será que existe uma diferença entre estes dois sentimentos?

Segundo Arthur Schopenhauer, em “A Arte de Insultar”: ...”O motor principal e fundamental no homem, bem como nos animais, é o egoísmo, ou seja, o impulso à existência e ao bem-estar”

Podemos refletir que talvez quando nos utilizamos de atitudes, sentimentos, palavras que nos realizem a um custo que só traga nosso bem-estar estamos agindo de forma egoísta! Porém, quando de alguma forma, nossas atitudes, palavras, sentimentos, demonstram um refrear em nós sobre a proximidade do outro, talvez isso possa ser amor próprio, e não, egoísmo!
Ao refletir com estas pessoas que trazem estas questões, buscamos resgatar esta diferença entre o Ser egoísta e o Ser amoroso. Talvez dizer não ao outro possa parecer egoísta, porém se é apenas por um respeito íntimo na busca de liberdade, de individualidade, estamos agindo de forma amorosa e respeitosa conosco.
Afinal, devemos lidar apenas com a nossa existência, o que já traz muita reflexão, ação e responsabilidade! Estar em relação não nos exime de sermos nós mesmos e agirmos de forma a buscar o respeito ao próximo a a nossa individualidade.
Será que conseguimos nos separar nas relações, assumindo as responsabilidades de nós mesmos? Trazendo ao outro uma relação limpa do egoísmo e de potencial liberdade?

Transbordar-se

O inesperado, o difícil e o desconfortável fazem parte da nossa existência, e viver assim faz parte de estar no mundo! Desde o nascimento, a vida nos convida a virarmos do avesso, a sentirmos intensamente, ela nos estimula a tentar novos começos, a nos ultrapassarmos e nos largarmos no desconhecido.

Estando no mundo, como vivenciamos o Amor?

Nosso primeiro grande amor começa com nós mesmos, ao lidarmos com nossos traumas, quedas, aprendizados, êxtases, alegrias…

Amar é aceitar o outro como ele é, mas só consigo genuinamente fazer isso, se intimamente me aceito. Neste sentido, encorajo pacientes a se levarem para passear, ir ao cinema, jantar, caminhar, se namorarem diariamente. Ao iniciar este olhar profundo sobre si, uma aceitação clara e sutil passa a fazer parte de quem é, como é.

Quando gastamos algum tempo com nossa existência, passamos a dar novos significados para o que já conhecemos e também a descobrir novas facetas em nós mesmos, dando menos importância para os gostos dos outros, diminuindo a probabilidade de me anular por uma aprovação alheia.

Aceitando o convite da vida, de intensamente vivenciar os turbilhões, as dores, os amores e cores, nos permitimos estar no mundo através de uma vivência de auto-amor.

E nesta vivência de auto-amor, me transformo no inteiro que transbordará em contato com o outro, e não na metade que precisa ser preenchida.

Significado Existencial

Diante de tantas buscas íntimas em responder sobre o significado da vida, encontrei nesta semana Tarthang Tulku, um lama tibetano. Foi um encontro casual, passando os olhos por muitos livros, em uma deliciosa tarde em uma livraria. Conhecê-lo, foi algo esclarecedor e revigorante para minhas reflexões, consegui de alguma forma iniciar em mim um caminho para a busca de um significado existencial, que com certeza fará parte de muitas conversas e reflexões no consultório!

Compartilho com vocês um trecho do livro “Gestos de Equilíbrio”, onde ele fala da importância de integrar mente e coração, ações e intuições, porque só assim “encontramos um significado genuíno em nossa vida”.

 “Se nossos corações estão abertos, toda a existência parece naturalmente bela e harmoniosa. Isto não é apenas mais uma fantasia – é possível ver ou sentir dessa maneira, e essa é a essência dos ensinamentos espirituais. O coração nos revela todos os conhecimentos. Por que o coração e não a mente? Porque o nosso ego controla a nossa cabeça, e os nossos corações são muito mais livres.

Quando os nossos corações estão abertos, nenhum problema é demasiado grande. Ainda quer percamos nossas posses e nossos amigos e fiquemos sós, sem ninguém para nos amparar ou para nos orientar, podemos encontrar sustentação em nossos sentimentos mais profundos, nosso silêncio interior. Utilizando nossos recursos interiores, podemos enfrentar com mais facilidade situações emocionais e intelectuais porque já não estamos envolvidos no drama que se desenrola à nossa volta.

Precisamos, portanto, encorajar nossos sentimentos calorosos e positivos. Esse calor não é uma emoção superficial ou sentimental – não é o tipo de emoção que leva ao desequilíbrio e cria frequentemente o “pânico” em lugar da calma. É uma autêntica abertura que sentimos como um calor profundo no centro do coração, que é o nosso santuário interior, o nosso próprio lar.

É no centro do coração que nossa natureza interior cresce até alcançar a plenitude. Depois que o centro do coração se abre, todos os bloqueios se dissolvem e um espírito ou intuição se difunde por todo o corpo, de modo que todo o nosso ser se põe a viver. A esse “espírito” dá-se, por vezes, o nome de essência da energia humana ou essência da verdade. Seja qual for o nome que se lhe dê, se não nos deixarmos impregnar por ele, o nosso corpo pode estar ativo, mas nosso coração permanecerá fechado. Somos estranhos a nós mesmos.

Quando nos tornamos capazes de integrar nossa mente com nosso coração e nossas ações com nossas intuições, encontramos um significado genuíno em nossa vida. Nossas dificuldades emocionais e nossos problemas diminuem automaticamente e descobrimos inspiração, insight, motivação e força”.

Eu sou Eu…

hj fiquei um tempo observando minhas coisas, a tarefa era me desapegar de algo para o amigo secreto do desapego que será hj a noite… percebi como me desapeguei de tantas coisas ao longo do tempo, o qto meus gostos variaram, minhas escolhas, valores, crenças, tudo foi levitando para se transformar no que sou neste momento. de certa forma, me sinto inteira, mesmo com tantos retalhos costurados. A escolha não foi fácil, mas consegui, escolhi algo que me confortou por muito tempo, que me acolheu nas reflexões, dores e pq não nas alegrias. Espero que meu amigo secreto tenha a mesma sorte que eu!

Tempo da Existência

Sinto o tempo passando por mim e de alguma forma me moldo a ele; quantas vezes tanto eu como meus pacientes tivemos percepções como estas?

Penso que existem diversas formas de vivenciar o tempo, uma delas é viver o tempo cronológico, o tempo do dorme e acorda (como às vezes explico para meus pacientes pequenos), aquele que de alguma forma molda meus dias em manhãs, tarefas, tardes, tarefas e noites dormir.

Este tempo fica imutável, cercado de vivências comuns, cotidianas e superficiais. Nas quais não consigo transcrever quem sou, o que penso, reflito, quero, busco, sinto. Mas, que me carrega dia após dia, mês após mês e ano após ano, a uma vivência simples, comum.

Busco junto a meus pacientes, encontrar o tempo talvez do coração, no sentido mais subjetivo mesmo, o tempo dos meus sentimentos, aquele que consiga traduzir minhas verdades, escolhas, pensamentos.

Um tempo que não consegue ser mensurado de forma comum, mas que apenas as vivências realmente sentidas podem transmutá-lo. E que cada um de nós tem o seu, ele não é comum, simples, mas sim, intenso, forte, cúmplice. Que cure minhas dores, dê novos significados a meus vazios existenciais, envolva minha história em um colorido só meu.

As experiências compartilhadas muitas vezes me mostram que ele existe, de alguma forma ainda busco encontrá-lo, em alguma vivência simples e sutil.

Desprendimento

Tenho pensado muito sobre o desprendimento… O que é? Será que existe?

Estes dias estudando alguns filósofos para meus casos clínicos, me deparei com o Mestre Eckhart Von Hochheim (1260-1327), frade dominicano, místico, filósofo, para ele o desprendimento é maior virtude que a humildade, que a misericórdia e inclusive que o amor.

Seus ensinamentos foram considerados por Arthur Schopenhauer como, em essência, “os mesmos de Buda”, segue um trecho que separei sobre sua reflexão a respeito do desprendimento:

“(…) O desprendimento perfeito não visa a sujeitar-se a nenhuma criatura nem a elevar-se sobre a criatura nenhuma — não quer estar abaixo nem acima de ninguém, antes quer estar em si mesmo, não fazendo bem nem mal a ninguém, não querendo ser igual nem desigual em relação a nenhuma craitura, nem isto nem aquilo: quer apenas ser. O desprendimento não quer ser isto nem aquilo porque quem quer ser isto ou aquilo quer ser algo; ele, porém, não quer ser nada. Por isso dispensa todas as coisas (…)”.

O que Eckhart parece dizer é que apenas com o esvaziamento de si mesmo, o homem alcança algo maior, é como se devessemos habitar um constante vazio próprio, não um deixar de viver, mas viver plenamente a si mesmo.

Devaneando, dentro do que percorro no consultório, este desprendimento citado não é inatingível, mas precisa de uma liberdade plena, que muitas vezes pode ser angustiante, desprende-se do criado, esperado; liberdade no sentido íntimo de simplesmente viver a vida com as possibilidades que me são apresentadas.

Neste sentido será que vivemos de alguma forma o desprendimento?

Ou….

Qual outro sentido podemos dar ao desprendimento?